Observando os ciclos de nosso corpo,
entramos em sintonia com o corpo maior e organismo vivo e pulsante que é
a Mãe Terra. Nós, mulheres, carregamos em nosso corpo - nosso útero -
todas as Luas, todos os ciclos, o poder do renascimento e da morte.
Aprendemos com nossas ancestrais que temos nosso tempo de contemplação
interior quando, como a Lua Nova, nos recolhemos em busca de nossos
sonhos e sentimentos mais profundos. As emoções, o corpo, a natureza são
alterados conforme a Lua gira em torno da Terra.
Nas tradições antigas, o Tempo da Lua
era o momento em que a mulher não estava apta a conceber, era um período
de descanço, onde se recolhiam de seus afazeres cotidianos para poderem
se renovar. "É o tempo sagrado da mulher", o período menstrual,
conforme nos conta Jamie Sams, "durante o qual ela é honrada como
sendo a Mãe da Energia Criativa". O ciclo feminino é como a teia da
vida e seu sangue está para seu corpo assim como a água está para a
Terra. A mulher, através dos tempos, é o símbolo da abundância,
fertilidade e nutrição. Ela é a tecelã, é a sonhadora.
Nas tradições nativas norte-americanas
há as "Tendas Negras", ou "Tendas da Lua", momento em que as mulheres da
tribo recolhem-se em seu período menstrual. É o momento do recolhimento
sagrado de comtemplação onde honram os dons recebidos, compartem
visões, sonhos, sentimentos, conectam-se com suas ancestrais e sábias da
tribo. São elas que sonham por toda a tribo, devido ao poder visionário
despertado nesse período. O negro é a cor relacionada à mulher na Roda
da Cura. Também são recebidas nas tendas as meninas em seu primeiro
ciclo menstrual para que conheçam o significado de ser mulher. Esse
recolhimento não é observado somente entre as nativas norte-americanas,
mas também entre várias outras culturas.
Diversos ritos de passagem marcam a vida
de meninas nativas no seu primeiro ciclo menstrual. Entre os Juruna,
quando a Lua Nova aponta no céu, é momento de as meninas se recolherem
para suas casas. As meninas kanamari, do Amazonas, também ficam reclusas
enquanto dura seu primeiro sangramento, sendo alimentadas somente pela
mãe. Assim ocorrem com as meninas tukúna que nesse período de reclusão
aprendem os afazeres e a essência do que é ser uma mulher adulta.
Observa-se, em alguns casos, como parte do rito, cortar o cabelo e
pintar o corpo de negro. São ritos de honra à mulher, e não o
afastamento das mesmas pela impureza, como foi mal-interpretado por
muitas outras culturas, principalmente a nossa ocidental extremamente
influenciada pelos valores cristãos.
Nossos corpos mudam nesse período, fluem
nossas emoções e estamos mais abertas a compartilhar com outras
mulheres, como uma conexão fraternal. Ao observarmos nossos ciclos em
relação à Lua, veremos que a maioria das mulheres que não adotam métodos
artificiais de contracepção e que fluem integradas ao ciclo lunar, têm
seu Tempo de Lua durante a Lua Nova.
É importante observarmos como fluímos
com a energia da Lua e seus ciclos, e em que período do ciclo lunar
menstruamos. A menstruação é um chamado do nosso corpo ao recolhimento,
assim como a Lua Nova é um período de introspecção, propício ao retiro e
à reflexão. A Lua Cheia proporciona expansão e, se nossos corpos estão
em sintonia com as energias naturais, é o período em que estaremos
férteis.
Quantas mulheres atualmente deixaram de
observar os ciclos do próprio corpo? Quantas deixaram de conectar-se com
as forças da natureza, deixaram de lado a riqueza desse período de
introspecção, recolhimento e contemplação de si mesmas? No nosso Tempo
de Lua sonhamos mais, estamos mais abertas à sabedoria que carregamos de
nossas ancestrais. Aproveite esse período para conhecer e explorar seu
interior, agradecendo os dons e habilidades que possui.
Compartilhe com outras mulheres esses
momentos sagrados de respeito e fraternidade. Ouse sonhar e exercer seu
lado visionária. Note que ao estar em conexão com todas as mulheres e
com a própria Mãe Terra, muitos sintomas tidos como incômodos vão
desaparecendo. Muitos destes sintomas são a rejeição desse período. Com a
competição resultante dos valores da sociedade moderna, muitas de nós
esqueceram de ouvir a si mesmas, de sentir a necessidade de seus
próprios corpos e corações.
Para finalizar, segue um trecho sobre a
Tenda da Lua, de Jamie Sams, falando-nos sobre a importância desse ciclo
de religação com a Terra e a Lua:
"O verdadeiro sentido dessa conexão
ficou perdido em nosso mundo moderno. Na minha opinião, muitos dos
problemas que as mulheres enfrentam, relacionados aos órgãos sexuais,
poderiam ser aliviados se elas voltassem a respeitar a necessidade de
retiro e de religação com a sua verdadeira Mãe e Avó, que vêm a ser
respectivamente a Terra e a Lua. As mulheres honram o seu Caminho
Sagrado quando se dão conta do conhecimento intuitivo inerente a sua
natureza receptiva. Ao confiar nos ciclos dos seus corpos e permitir que
as sensações venham à tona dentro deles, as mulheres vêm sendo videntes
e oráculos de suas tribos há séculos. As mulheres precisam aprender a
amar, compreender, e, desta forma, curar umas às outras. Cada uma delas
pode penetrar no silêncio do próprio coração para que lhe seja revelada a
beleza do recolhimento e da receptividade."

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