21 Dec 2009

A dieta do dr Atkins

A Dieta do Dr. Atkins foi a precursora de ‘todas as chamadas dietas da moda’. Lançada por três vezes – 1972, 1992 e 2002 – todas com um grande apelo de marketing. Nas três ocasiões foi chamada de a “Nova Dieta Revolucionária do Dr. Atkins”, mesmo não havendo nenhum elemento novo nos relançamentos.
A dieta promete perda de peso rápida e ‘sem fome’. Promessa que sempre despertou a atenção das pessoas. O livro do Dr. Atkins já vendeu mais de 10 milhões de cópias em todo o mundo. “A proposta do cardiologista americano Dr. Robert Atkins é a de que deveríamos abolir todo tipo de carboidrato de nossa dieta, ou seja, pães, arroz, feijão e grãos, batatas, frutas, massas em geral, qualquer tipo de doces e a maior parte das verduras. Essa recomendação se baseia na conclusão de que os carboidratos são os responsáveis pelo ganho de peso das pessoas e que bastaria a retirada dos mesmos da dieta para alcançarmos o peso ideal”, explica a endocrinologista e nutróloga Ellen Simone Paiva, diretora-clínica do CITEN, Centro Integrado de Terapia Nutricional.
Nessa dieta não há restrição de calorias e a pessoa pode comer a quantidade que quiser dos alimentos que não sejam carboidratos, ou seja, carnes, embutidos, bacon, queijos amarelos e ovos. Ou seja, a dieta é rica em proteínas e gorduras. “Na verdade, a Dieta do Dr. Atkins emagrece muito e rapidamente. A perda de peso não ocorre pela suspensão dos carboidratos como proposto por ele e sim porque essa dieta é muito monótona e a grande quantidade de proteínas que ela possui induz à saciedade, fazendo com que as pessoas comam poucas calorias. Quem segue esta dieta não consegue comer muita carne e ovos sem arroz ou outro carboidrato. Também não consegue comer presunto e queijo, em grandes quantidades, sem pão”, afirma a endocrinologista.
Logo, a monotonia da dieta, aliada ao seu grande poder de saciedade faz com que a pessoa coma pouco. “Por outro lado, a perda de peso não dura muito tempo, as pessoas que seguem ‘a proposta revolucionária do médico’ logo voltam a ganhar peso, evidenciando a grande dificuldade de seguir uma dieta como esta”, diz Ellen Paiva. Ainda segundo a médica, a pior parte da Dieta do Dr. Atkins é o seu alto teor de colesterol e de gorduras saturadas. “Tudo o que não queremos para nossos pacientes, tudo o que há de mais contrário à idéia de saúde”, defende a especialista.
Para emagrecer com saúde
“Quando propomos uma dieta para emagrecer, não podemos esquecer os conceitos de nutrição e saúde, que devem ser levados em conta, além do desejo de emagrecer do paciente”, afirma a nutróloga Ellen Paiva. Devido à suspensão de frutas e legumes, a Dieta do Dr. Atkins é falha no que se refere a vitaminas e minerais. “E sabemos que a suplementação vitamínica não supre a falta de ingestão dos alimentos ricos nesses micronutrientes”, diz a diretora-clínica do CITEN, lembrando também que a maior perda de peso que se consegue com esta dieta é à base da eliminação de água corporal e de massa magra.
“Desde que o Dr. Atkins lançou sua dieta sem carboidratos, em 1972, ‘as dietas da moda’ viraram moda e nunca mais conseguimos tirar esse equívoco da cabeça das pessoas: a falsa idéia de que os carboidratos engordam e devem ser evitados”, afirma a endocrinologista. Hoje, ‘as dietas da moda’ são destaques na mídia, suas fórmulas são publicadas em livros que se tornam best sellers, são recomendadas por celebridades e passaram a fazer parte da vida das pessoas… Até que surja alguém ainda mais esperto e invente a próxima dieta da moda.
“Todas as ‘dietas da moda’ emagrecem. Todas têm um valor calórico muito abaixo das reais necessidades calóricas das pessoas. É esta defasagem de calorias que faz as pessoas emagrecerem, mas sem compromisso com as suas necessidades nutricionais e sem respeito às preferências alimentares de cada um”, ressalta Ellen Paiva. Na maioria das vezes, ‘as dietas da moda’ são monótonas, de sabor tão ruim que quem as segue não vê a hora de terminar ‘o regime’ para voltar a comer o que gosta. Estas características inviabilizam a manutenção do peso e não permitem que, após a perda de peso, o paciente siga se alimentando corretamente.
São necessários ainda muitos estudos científicos para avaliar a possível eficácia clínica e a segurança da Dieta do Dr. Atkins como ferramenta terapêutica na redução e manutenção de peso a longo prazo. “Para o tratamento da obesidade, ainda é seguro afirmar que dietas hipocalóricas e balanceadas que proponham uma reeducação alimentar trazem os resultados mais eficazes e duradouros”, conclui.

A importância do café da manhã

Levantar cedo e geralmente atrasado são as explicações mais usadas para que as pessoas deixem de fazer o desjejum. “Qualquer que seja o motivo alegado, essa omissão pode influenciar negativamente o nosso metabolismo durante o dia, pois após um jejum prolongado – englobando a noite e a manhã – nosso corpo traduz essa situação como escassez de alimentos e reage reduzindo a queima calórica”, informa a endocrinologista e nutróloga Ellen Simone Paiva, diretora-clínica do Citen, Centro Integrado de Terapia Nutricional.
“Logo, podemos concluir que não comer pela manhã pode dificultar não somente a nutrição, mas também a manutenção do peso, além de não ser uma boa estratégia para emagrecer”, defende a médica. O mecanismo da fome, acionado progressivamente durante o dia, pode se tornar incontrolável após longos períodos sem a ingestão de alimentos. Isso explica como essa omissão matutina desencadeia comportamentos alimentares anormais ao longo do dia, culminando com grandes ingestas no almoço e, principalmente noturnas, que por sua vez, perpetuam o processo de falta de apetite na manhã seguinte.
“Outro comportamento alimentar anormal da pessoa que não toma o café da manhã é o do beliscador, que come pequenas porções de alimento durante todo o dia e não tem fome para fazer refeições bem definidas”, observa Ellen Paiva. Estas pessoas acabam pulando também o almoço e ingerindo várias pequenas porções de alimentos durante o dia, geralmente com grandes quantidades de carboidratos e gorduras, comprometendo o peso e a nutrição. “Nesses pacientes, a secreção de insulina é irregular, ocorren toda vez que ingerem pequenos beliscos, propiciando ainda mais o ganho de peso, uma vez que esse hormônio sempre tenta armazenar calorias em detrimento da queima”, explica a endocrinologista.
Cardápio matinal
Um bom café da manhã deve conter proporções variadas de pães – principalmente os integrais – cereais matinais, geléia, margarina, requeijão e cream cheese lights, queijo fresco, leite ou iogurte desnatados, café, achocolatados, frutas frescas e secas. “A composição do cardápio deve priorizar a escolha de uma porção de carboidrato, evitando o consumo de pães e cereais na mesma refeição, procedendo assim com os demais nutrientes como gorduras e proteínas”, explica a nutróloga. No quesito gorduras, elas geralmente vem incorporadas às proteínas de origem animal, como leite e derivados e embutidos, informa a especialista.
“Quando avaliamos uma refeição, devemos observar seu valor em calorias e seus nutrientes. O café da manhã deve conter cerca 25% das calorias ingeridas no dia”, afirma Ellen Paiva. Calorias são importantes para todos, mesmo quando estamos com peso normal. “Devemos lembrar que as gorduras são os nutrientes mais calóricos, sendo que 1g de proteína ou carboidrato confere 4 calorias, ao passo que 1g de gordura agrega 9 calorias ao nosso cardápio”, exemplifica a médica.
Os alimentos mais gordurosos, que põem em risco o café da manhã, são os queijos amarelos, os embutidos, a manteiga, os biscoitos recheados e os bolos. Não há a necessidade de bani-los do cardápio, mas podemos optar pelas versões lights e evitar os cookies, bolos e guloseimas.
“Muitos têm dificuldade para comer pela manhã. Não sentem fome alguma, ou o que é ainda pior, não toleram a idéia de comer que ficam nauseados. Muitas vezes, este comportamento traduz uma ingestão excessiva de alimentos à noite, refletindo na inapetência matinal. Se este for o caso, a redução do volume de alimentos à noite pode ajudar”, defende a endocrinologista. Caso esse não seja o motivo para não querer tomar o café da manhã, a pessoa pode recorrer à reeducação alimentar, tentando ingerir pequenas porções de alimentos e aumentando o consumo gradativamente, de acordo com a sua tolerância. “Se esta pessoa conseguir tomar o café da manhã completo terá uma manhã muito mais produtiva, com melhor capacidade de raciocínio e de ânimo para vencer os embates do dia”, diz a nutróloga Ellen Simone Paiva.

Explicando a compulsão por comida

Comer muito, de vez em quando, pode ocorrer com qualquer um de nós, principalmente quando temos um dia atribulado, mal deu tempo para um copo de leite de manhã, o almoço passou em branco e engolimos algumas bolachas entre um e outro compromisso à tarde. Chegamos em casa “varados” de fome e não conseguimos nos saciar com o prato normal do jantar ou o lanche que normalmente ingerimos.
Comer muito, de vez em quando, pode ocorrer com qualquer um de nós, principalmente quando nos deparamos com aquele prato especial e muito saboroso no domingo, ou aquela sobremesa com a qual somos presenteados de vez em quando em reuniões familiares. “Assim, após o jejum prolongado ou diante de uma comida muito saborosa, não há nada de errado em comermos em demasia e a única sensação ruim que tais situações podem causar é dificuldade digestiva, além de alguns quilinhos a mais”, explica a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Centro Integrado de Terapia Nutricional, Citen.
Há ainda os que comem mais em ocasiões aflitivas, quando enfrentam algum problema ou quando são expostos a situações que geram ansiedade. Mesmo nesses casos, não encontramos os dados necessários para o diagnóstico do Comer Compulsivo. Aqui, não há a periodicidade dos episódios e a associação a situações especiais de tristeza ou ansiedade fazem deles quase que um ato de compensação da dor ou da tristeza.
O que é o Comer Compulsivo?
O Comer Compulsivo não é nada disso. Os episódios compulsivos não são simplesmente comer muito, em pequenos espaços de tempo. “Há algumas características desses pacientes que traduzem a gravidade do problema. Entre elas, a freqüência dos episódios, no mínimo 2 vezes por semana; a impossibilidade de se conter com a sensação de perda do controle sobre a alimentação; a ingestão de alimentos pouco palatáveis ou saborosos, por exemplo, quando o paciente come tudo o que ele encontra na geladeira ou na despensa. Come várias frutas, iogurtes, bolachas, sobras de comida do dia anterior mesmo estando geladas, sucos em caixinha, leite, chocolate e vai comendo… Gostando ou não do que ele encontra. Muitos pacientes comem até a exaustão e a dor física. Tudo isto de uma única vez, apenas engolindo os alimentos, sem mastigar, sem ao menos ter vontade”, explica a endocrinologista. Ele só vai parar quando se sentir desconfortavelmente empanturrado. Um indicador forte para a presença da Síndrome do Comer Compulsivo é a obesidade. Entre os obesos, 20% sofrem desse transtorno. Entre os portadores de obesidade grave o número chega a 50%.
Mas há outros fortes indícios. “A depressão também acompanha os pacientes que apresentam a Síndrome do Comer Compulsivo. De cada cinco comedores compulsivos, um sofre de depressão. Esse índice é treze vezes maior do que entre os obesos não compulsivos. À medida em que procuramos entender a relação entre a obesidade e uma série de transtornos psiquiátricos, podemos constatar que um número muito grande de obesos preenche os critérios diagnósticos de algum dos transtornos alimentares”, afirma a médica. E dentre estes, a Síndrome do Comer Compulsivo talvez seja o mais freqüente transtorno apresentado, podendo ser esporádico ou periódico.
Dentre os transtornos alimentares, às vezes é difícil um diagnóstico preciso, pois muitos pacientes possuem características mistas de mais de um transtorno. “Além disso, nem todos os pacientes declaram abertamente seus problemas, omitindo por constrangimento a ocorrência de episódios compensatórios ou vômitos. Somente após se sentirem seguros e acolhidos é que esses pacientes conseguirão se abrir, podendo assim participar ativamente de seu tratamento”, alerta a endocrinologista Ellen Paiva.
Compulsão x ansiedade
“Há outros fatores envolvidos na etiologia dos transtornos alimentares e não sabemos se comemos por estarmos ansiosos ou se comer compulsivamente vai nos deixando ansiosos. Mas não há dúvidas, as duas coisas geralmente andam juntas”, diz a diretora-clínica do Citen.
“A terapia cognitivo-comportamental, a psicanálise e os medicamentos sacietógenos e antidepressivos são eficazes, pelo menos a curto prazo, para melhorar os sintomas da Síndrome. O paciente deve ser tratado por uma equipe multidisciplinar, além da importante participação da família em todo o processo de recuperação”, informa a médica.
Atualmente, o Citen mantém um grupo de pacientes portadores da Síndrome do Comer Compulsivo em tratamento através da Psicanálise de Grupo. “Trata-se de um grupo aberto de pacientes, sob a orientação da psicanalista Marta Foster. Acreditamos que essa abordagem pode se constituir numa importante ferramenta no tratamento dos pacientes com transtornos alimentares, uma vez que esses pacientes, principalmente aqueles com a Síndrome do Comer Compulsivo, se enquadram perfeitamente no diagnóstico dos transtornos do impulso”, explica Ellen Paiva.