21 Dec 2009

Explicando a compulsão por comida

Comer muito, de vez em quando, pode ocorrer com qualquer um de nós, principalmente quando temos um dia atribulado, mal deu tempo para um copo de leite de manhã, o almoço passou em branco e engolimos algumas bolachas entre um e outro compromisso à tarde. Chegamos em casa “varados” de fome e não conseguimos nos saciar com o prato normal do jantar ou o lanche que normalmente ingerimos.
Comer muito, de vez em quando, pode ocorrer com qualquer um de nós, principalmente quando nos deparamos com aquele prato especial e muito saboroso no domingo, ou aquela sobremesa com a qual somos presenteados de vez em quando em reuniões familiares. “Assim, após o jejum prolongado ou diante de uma comida muito saborosa, não há nada de errado em comermos em demasia e a única sensação ruim que tais situações podem causar é dificuldade digestiva, além de alguns quilinhos a mais”, explica a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Centro Integrado de Terapia Nutricional, Citen.
Há ainda os que comem mais em ocasiões aflitivas, quando enfrentam algum problema ou quando são expostos a situações que geram ansiedade. Mesmo nesses casos, não encontramos os dados necessários para o diagnóstico do Comer Compulsivo. Aqui, não há a periodicidade dos episódios e a associação a situações especiais de tristeza ou ansiedade fazem deles quase que um ato de compensação da dor ou da tristeza.
O que é o Comer Compulsivo?
O Comer Compulsivo não é nada disso. Os episódios compulsivos não são simplesmente comer muito, em pequenos espaços de tempo. “Há algumas características desses pacientes que traduzem a gravidade do problema. Entre elas, a freqüência dos episódios, no mínimo 2 vezes por semana; a impossibilidade de se conter com a sensação de perda do controle sobre a alimentação; a ingestão de alimentos pouco palatáveis ou saborosos, por exemplo, quando o paciente come tudo o que ele encontra na geladeira ou na despensa. Come várias frutas, iogurtes, bolachas, sobras de comida do dia anterior mesmo estando geladas, sucos em caixinha, leite, chocolate e vai comendo… Gostando ou não do que ele encontra. Muitos pacientes comem até a exaustão e a dor física. Tudo isto de uma única vez, apenas engolindo os alimentos, sem mastigar, sem ao menos ter vontade”, explica a endocrinologista. Ele só vai parar quando se sentir desconfortavelmente empanturrado. Um indicador forte para a presença da Síndrome do Comer Compulsivo é a obesidade. Entre os obesos, 20% sofrem desse transtorno. Entre os portadores de obesidade grave o número chega a 50%.
Mas há outros fortes indícios. “A depressão também acompanha os pacientes que apresentam a Síndrome do Comer Compulsivo. De cada cinco comedores compulsivos, um sofre de depressão. Esse índice é treze vezes maior do que entre os obesos não compulsivos. À medida em que procuramos entender a relação entre a obesidade e uma série de transtornos psiquiátricos, podemos constatar que um número muito grande de obesos preenche os critérios diagnósticos de algum dos transtornos alimentares”, afirma a médica. E dentre estes, a Síndrome do Comer Compulsivo talvez seja o mais freqüente transtorno apresentado, podendo ser esporádico ou periódico.
Dentre os transtornos alimentares, às vezes é difícil um diagnóstico preciso, pois muitos pacientes possuem características mistas de mais de um transtorno. “Além disso, nem todos os pacientes declaram abertamente seus problemas, omitindo por constrangimento a ocorrência de episódios compensatórios ou vômitos. Somente após se sentirem seguros e acolhidos é que esses pacientes conseguirão se abrir, podendo assim participar ativamente de seu tratamento”, alerta a endocrinologista Ellen Paiva.
Compulsão x ansiedade
“Há outros fatores envolvidos na etiologia dos transtornos alimentares e não sabemos se comemos por estarmos ansiosos ou se comer compulsivamente vai nos deixando ansiosos. Mas não há dúvidas, as duas coisas geralmente andam juntas”, diz a diretora-clínica do Citen.
“A terapia cognitivo-comportamental, a psicanálise e os medicamentos sacietógenos e antidepressivos são eficazes, pelo menos a curto prazo, para melhorar os sintomas da Síndrome. O paciente deve ser tratado por uma equipe multidisciplinar, além da importante participação da família em todo o processo de recuperação”, informa a médica.
Atualmente, o Citen mantém um grupo de pacientes portadores da Síndrome do Comer Compulsivo em tratamento através da Psicanálise de Grupo. “Trata-se de um grupo aberto de pacientes, sob a orientação da psicanalista Marta Foster. Acreditamos que essa abordagem pode se constituir numa importante ferramenta no tratamento dos pacientes com transtornos alimentares, uma vez que esses pacientes, principalmente aqueles com a Síndrome do Comer Compulsivo, se enquadram perfeitamente no diagnóstico dos transtornos do impulso”, explica Ellen Paiva.

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