Comer muito, de vez em quando, pode ocorrer com qualquer um de nós,
principalmente quando temos um dia atribulado, mal deu tempo para um
copo de leite de manhã, o almoço passou em branco e engolimos algumas
bolachas entre um e outro compromisso à tarde. Chegamos em casa
“varados” de fome e não conseguimos nos saciar com o prato normal do
jantar ou o lanche que normalmente ingerimos.
Comer muito, de vez em quando, pode ocorrer com qualquer um de nós,
principalmente quando nos deparamos com aquele prato especial e muito
saboroso no domingo, ou aquela sobremesa com a qual somos presenteados
de vez em quando em reuniões familiares. “Assim, após o jejum
prolongado ou diante de uma comida muito saborosa, não há nada de
errado em comermos em demasia e a única sensação ruim que tais
situações podem causar é dificuldade digestiva, além de alguns
quilinhos a mais”, explica a endocrinologista Ellen Simone Paiva,
diretora do Centro Integrado de Terapia Nutricional, Citen.
Há ainda os que comem mais em ocasiões aflitivas, quando enfrentam
algum problema ou quando são expostos a situações que geram ansiedade.
Mesmo nesses casos, não encontramos os dados necessários para o
diagnóstico do Comer Compulsivo. Aqui, não há a periodicidade dos
episódios e a associação a situações especiais de tristeza ou ansiedade
fazem deles quase que um ato de compensação da dor ou da tristeza.
O que é o Comer Compulsivo?
O Comer Compulsivo não é nada disso. Os episódios compulsivos não
são simplesmente comer muito, em pequenos espaços de tempo. “Há algumas
características desses pacientes que traduzem a gravidade do problema.
Entre elas, a freqüência dos episódios, no mínimo 2 vezes por semana; a
impossibilidade de se conter com a sensação de perda do controle sobre
a alimentação; a ingestão de alimentos pouco palatáveis ou saborosos,
por exemplo, quando o paciente come tudo o que ele encontra na
geladeira ou na despensa. Come várias frutas, iogurtes, bolachas,
sobras de comida do dia anterior mesmo estando geladas, sucos em
caixinha, leite, chocolate e vai comendo… Gostando ou não do que ele
encontra. Muitos pacientes comem até a exaustão e a dor física. Tudo
isto de uma única vez, apenas engolindo os alimentos, sem mastigar, sem
ao menos ter vontade”, explica a endocrinologista. Ele só vai parar
quando se sentir desconfortavelmente empanturrado. Um indicador forte
para a presença da Síndrome do Comer Compulsivo é a obesidade. Entre os
obesos, 20% sofrem desse transtorno. Entre os portadores de obesidade
grave o número chega a 50%.
Mas há outros fortes indícios. “A depressão também acompanha os
pacientes que apresentam a Síndrome do Comer Compulsivo. De cada cinco
comedores compulsivos, um sofre de depressão. Esse índice é treze vezes
maior do que entre os obesos não compulsivos. À medida em que
procuramos entender a relação entre a obesidade e uma série de
transtornos psiquiátricos, podemos constatar que um número muito grande
de obesos preenche os critérios diagnósticos de algum dos transtornos
alimentares”, afirma a médica. E dentre estes, a Síndrome do Comer
Compulsivo talvez seja o mais freqüente transtorno apresentado, podendo
ser esporádico ou periódico.
Dentre os transtornos alimentares, às vezes é difícil um diagnóstico
preciso, pois muitos pacientes possuem características mistas de mais
de um transtorno. “Além disso, nem todos os pacientes declaram
abertamente seus problemas, omitindo por constrangimento a ocorrência
de episódios compensatórios ou vômitos. Somente após se sentirem
seguros e acolhidos é que esses pacientes conseguirão se abrir, podendo
assim participar ativamente de seu tratamento”, alerta a
endocrinologista Ellen Paiva.
Compulsão x ansiedade
“Há outros fatores envolvidos na etiologia dos transtornos
alimentares e não sabemos se comemos por estarmos ansiosos ou se comer
compulsivamente vai nos deixando ansiosos. Mas não há dúvidas, as duas
coisas geralmente andam juntas”, diz a diretora-clínica do Citen.
“A terapia cognitivo-comportamental, a psicanálise e os medicamentos
sacietógenos e antidepressivos são eficazes, pelo menos a curto prazo,
para melhorar os sintomas da Síndrome. O paciente deve ser tratado por
uma equipe multidisciplinar, além da importante participação da família
em todo o processo de recuperação”, informa a médica.
Atualmente, o Citen mantém um grupo de pacientes portadores da
Síndrome do Comer Compulsivo em tratamento através da Psicanálise de
Grupo. “Trata-se de um grupo aberto de pacientes, sob a orientação da
psicanalista Marta Foster. Acreditamos que essa abordagem pode se
constituir numa importante ferramenta no tratamento dos pacientes com
transtornos alimentares, uma vez que esses pacientes, principalmente
aqueles com a Síndrome do Comer Compulsivo, se enquadram perfeitamente
no diagnóstico dos transtornos do impulso”, explica Ellen Paiva.
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